Peço desculpas a você, leitor, caso seja civil. Afinal de contas, muito provavelmente um texto escrito por um militar em nada irá te interessar. Porém, creio eu, a leitura das próximas linhas poderá ser até prazerosa... Sigamos juntos até o final.
Na entrada da Academia de Polícia Militar, órgão que formas os oficiais combatentes da corporação, há duas grandes pilastras. Em uma delas encontra-se escrita a palavra HIERARQUIA, já na outra encontramos a palavra DISCIPLINA.
Quando iniciei a carreira de oficial PM não segurei a curiosidade. Perguntei a um oficial superior o porquê daquelas palavras estarem escritas nestas colunas. Obtive como resposta que aqueles eram os pilares da Polícia Militar, se um destes ruísse, a corporação ruiria.
Desnecessário dizer ao leitor o que é uma instituição militar: um organismo inteiramente hierarquizado cujo seus integrantes são submetidos a regulamentos espartanos e ao respeito aos valores essenciais a sua manutenção.
Pois bem... Feita esta apresentação, vamos ao que interessa!
Há cerca de três semanas fomos convidados, assim como outros presidentes de associações, para mantermos um bate-papo franco com o vice-governador Belivaldo Chagas. Abro um parêntese aqui para elogiar a postura do mesmo. Sempre abriu as portas do palácio para nos receber e sempre nos ouviu, fosse qual fosse a pauta, sendo um verdadeiro democrata.
Iniciada a reunião, cada presidente de associação explanou acerca de sua proposta de melhorias para a corporação. As demandas eram diversas. Como fui o último a falar, meio que timidamente, pedi ao vice-governador que, assim que o mesmo assumisse o governo (se é que irá assumir), acabasse com a promoção por merecimento para oficiais superiores da corporação.
Claro e obviamente, não fiz a proposta sem fundamentá-la: com o atual critério único de promoção por merecimento, intitulado “escolha do governador”, abre-se uma série de situações – especialmente em ano eleitoral – para que recaiam suspeitas sobre estes “escolhidos”. Afinal de contas, o governador poderia deixar de escolher um oficial que estiver aliado a um determinado político aliado - ou cabo eleitoral - para promover um que não tenha “padrinho”? Poderia um oficial apadrinhado, que estivesse no final da lista de antiguidade, ser o escolhido e passar o colega mais antigo – não-apadrinhado, violentando a hierarquia na corporação? Poderia um parente de alguém com alto grau na administração pública ser o escolhido?
Para todas as perguntas, só há uma resposta: SIM!
Não vou negar os avanços trabalhistas recentemente conquistados junto ao atual governo. Posso até esquecer algum deles, mas cito exemplos: o nível superior para ingresso, a remuneração por subsídio, o auxílio-uniforme, a promoção por tempo de serviço, a presunção de inocência nas promoções de militares, etc.
Certa feita li em um antigo livro que você pode fazer dez coisas boas a uma pessoa. Mas, no dia que você fizer uma coisa ruim, tudo aquilo que você fez de bom será esquecido e a pessoa deixará de te admirar.
Recentemente, houve uma mudança no decreto de promoção de oficiais. Tal mudança permitirá que oficiais que não estejam no quadro de acesso por serem “modernos” (ter menos tempo na função que os demais), estejam habilitados a serem promovidos. Especula-se que oficiais do palácio do governo e oficiais ligados a políticos do interior do Estado e cabos eleitorais – como já falamos – serão os promovidos. Tudo isso, em um ano eleitoral...
Não sei quem está assessorando o governador Jackson Barreto, nem ao vice-governador Belivaldo Chagas... Porém, se a ideia destas pretensas promoções for turbinar uma pretensa campanha eleitoral, o tiro sairá pela culatra.
Foi se o tempo que oficiais impunham à sua tropa em quem eles deveriam votar. Hoje, graças à luta histórica pelo retorno à democracia, liderada a nível local por Jackson Barreto, o militar secretamente escolhe seu candidato e vota sem dever favor a ninguém. Além disso, a quase totalidade da tropa possui nível superior de instrução e está assistindo a tudo que está acontecendo, atenta e disposta a reagir se for necessário usando a arma que tem: O VOTO!
Não estou fazendo campanha para político nenhum, mas adianto que se essas promoções forem realizadas da forma que se está especulando a tropa dará uma resposta à altura e todo o trabalho que foi muito bem feito pela atual gestão poderá escorrer pelo ralo da ingenuidade ou do mal assessoramento. Ressalto que muitos destes pretensos futuros promovidos, já foram promovidos no atual governo bem recentemente. Estes obterão uma ascensão estratosférica na carreira, enquanto os demais assistirão o pilar da hierarquia ser corrompido.
Os delegados da Polícia Civil de Sergipe, com bastante sabedoria, extinguiram a promoção por MERECIMENTO de sua corporação e hoje todos os delegados são promovidos por ANTIGUIDADE, não necessitando se "prostituir" atrás de políticos, cabos eleitorais, “líderes” religiosos e demais pessoas com algum grau de influência.
Governador BELIVALDO CHAGAS, reconheço o caráter democrático do senhor e faço o apelo para que, para promover alguns privilegiados, não criem a insatisfação de milhares de profissionais da ativa e reformados. Que Deus o abençoe e lhe dê sabedoria para desfazer esse mal a que foi orientados, pois acredito piamente que tal ideia não saiu de vosso coração.
Um beijo no coração de cada um dos senhores!
Um Policial Militar amigo.
Artigo enviado para o blog Espaço Militar e que preservamos o sigilo da fonte.
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